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INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
Uma história centenária
INTRODUÇÃO
É inquestionável que, do ponto de vista estritamente científico o
homem foi o iniciador e é o continuador de sua História, entendida esta
como o conjunto de ações transformadoras que geram os fatos sociais
delimitadores das várias épocas e situações.
Mais importante, contudo, que tais ações transformadoras, por ele
espontaneamente empreendidas, foi a consciência gradativa delas
adquirida, firmando-o como agente intencional de sua evolução, clara e
objetivamente traduzida, nos últimos tempos, pelo surgimento das
instituições específicas, representativas e concretizadoras dos direitos
individuais e sociais das diversas parcelas do complexo humano.
Uma análise retrospectiva na evolução histórica dos conceitos sobre as
pessoas deficientes mostra, de maneira insofismável, que, milênios antes
da teoria darwiniana sobre a Seleção Natural das Espécies, o homem
percebia as diferenças como prova cabal de inferioridade, o que, por
muitos séculos, manteve as minorias submissas e acomodadas, convencidas,
que também eram, da superioridade intrínseca dos física e mentalmente
íntegros. Não obstante, no fundo dos espíritos imbatíveis, sempre houve
o desejo de busca de igualdade com o outro, de que resultaram, no século
passado, as primeiras tentativas para a educação das pessoas
deficientes, aquelas cujas diferenças eram consideradas mais grave, com
danos diretamente proporcionais às suas capacidades.
Surge, nesse contexto, o francês Louis Braille, que, tendo nascido em 04
de janeiro de 1809 e falecido 43 anos depois, no dia 06 do mesmo, perdeu
a visão, ainda menino, em virtude de acidente por ele mesmo
involuntariamente provocado. A ele coube, pelo sistema de leitura e
escrita, até hoje insubstituível e ainda conhecido pela marca de seu
sobrenome, traçar a linha divisória entre a ignorância e o conhecimento
pelo acesso à informação, para aqueles que não mais pudessem depender
dos olhos no desenvolvimento de sua intelectualidade. E, por não se
poder nem se dever desvincular da história de Louis Braille a dos
deficientes visuais, introduzimos, com este parágrafo, a história do
Instituto Benjamin Constant, que, há mais de 150 anos, dedica-se ao
ensino de pessoas cegas e de visão reduzida.
ANTECEDENTES
Remonta a agosto de 1835 a primeira demonstração oficial de
interesse pela educação das pessoas portadoras de deficiência visual em
nosso país, quando o Conselheiro Cornélio Ferreira França, deputado pela
Província da Bahia, apresentou à Assembléia Geral Legislativa projeto
para a criação de uma "Cadeira de Professores de Primeiras Letras para o
Ensino de Cegos e Surdos-Mudos, nas Escolas da Corte e das Capitais das
Províncias", não aprovado, por ser fim de mandato e seu idealizador não
ter sido reeleito.
A segunda tentativa foi iniciada por José Alvares de Azevedo, jovem cego
descendente de família abastada, o qual, ainda menino e a conselho do
Dr. Maxiliano Antônio de Lemos, amigo de um tio seu, fora mandado
estudar em Paris, no Instituto Imperial dos Jovens Cegos, idealizado por
Valentin Hauy e que também servira de escola a Louis Braille, onde
aliás, desenvolveu o Sistema Braille. Regressando da França em 1852,
após ter lá permanecido por oito anos, lançou-se à luta pela educação de
seus compatriotas, ora escrevendo artigos em jornais, ora ministrando
aulas particulares dos conhecimentos lá adquiridos. Foi na condição de
professor que se tornou amigo do Dr. José Francisco Xavier Sigaud,
francês naturalizado brasileiro e médico da Imperial Câmara, a cuja
filha cega, Adéle Marie Louise Sigaud, veio a ensinar o sistema Braille.
Entusiasmado com o brilhantismo do jovem e compartindo seu desejo de
fundar no Brasil uma escola para pessoas cegas nos moldes da parisiense,
o Dr. Sigaud apresentou-o ao Barão de Rio Bonito, pedindo-lhe que o
levasse à presença do Imperador D. Pedro II. Este, ao vê-lo escrevendo e
lendo em Braille, teria exclamado: "A cegueira não é mais uma desgraça",
palavras a que, aliás, o Dr. Sigaud aludiria em seu discurso por ocasião
da instalação do Instituto.
Orientados, então, pelo próprio Imperador, o Dr. Sigaud e José Alvares
de Azevedo subscreveram um requerimento e o entregaram, em janeiro de
1853, ao Ministro Secretário de Estado dos Negócios do Império, Luiz
Pedreira do Couto Ferraz, que o apresentou à Assembléia Geral
Legislativa em maio daquele ano. A proposta propunha a criação de uma
escola para pessoas cegas, com solicitação de um orçamento anual de 15
contos de réis e previsão para matrícula de 25 alunos. Embora a proposta
não tenha chegado a ser apreciada, o Ministro tinha tal certeza de sua
aprovação, que, mesmo antes dela, começou a providenciar, auxiliado
pelos conhecimentos de Azevedo, a vinda, diretamente de Paris, dos
materiais escolares indispensáveis aos futuros alunos. Afinal, em 12 de
setembro de 1854, foi criado, pelo Decreto Imperial No. 1.428, o
Imperial Instituto dos Meninos Cegos, inaugurado 05 dias depois, sem a
presença de Álvares de Azevedo, que falecera, prematuramente, em 17 de
março daquele ano. Só teve tempo de escrever uma obra: a tradução de
"História dos Meninos Cegos de Paris", da autoria de J. Guadet.
Detalhe da fachada do IBC
FUNDAÇÃO
Em 17 de setembro de 1854, com a presença do Imperador, a Imperatriz
e as mais altas autoridades da Corte e do seu primeiro diretor, o Dr.
Sigaud, foi inaugurado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em
solenidade cujo registro, publicado no Jornal do Comércio do dia
subsequente, abaixo transcrevemos, mantendo a ortografia da época:
"Teve hontem lugar a inauguração do Instituto dos Meninos Cègos do
Brazil, à qual dignárão-se assistir Sua Majestade o Imperador e Sua
Majestade a Imperatriz.
O Sr. Conselheiro Pedreira, como Ministro do Império em uma breve
allocução, allusiva ao objecto, pedio as ordens de S. M. o Imperador
para a abertura do estabelecimento, e tendo-as obtido, declarou
inaugurado o Instituto. Seguio-se um interessante discurso do Sr. Dr.
Sigaud, director do instituto e um hyno a SS.MM. cantado pelos meninos
cegos.
SS.MM. percorrêrrão depois as salas de estudo, refeitorio, dormitorio e
mais dependencias do edificio e retirárão-se parecendo satisfeitos.
Assistirão a este acto os ministros, alguns conselheiros de estado,
senadores, deputados, e muitas pessoas gradas. Estiverão tambem
presentes muitas senhoras de distincção.
Os meninos apresentárão-se já vestidos com uniforme do collegio. A scena
da inauguração foi tocante e comoveu a muitos corações.
Tocárão as bandas de musica do batalhão de fuzileiros, que fez a guarda
de honra e a dos menores.
Forão nomeados:
Comissario do Governo para Inspecção do Instituto, o Sr. Conselheiro de
Estado Visconde de Abrantes. Director, o Sr. Dr. José Francisco Sigaud.
Capellão, o Sr. conego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro. Professor de
primeiras letras o Sr. Dr. Pedro José de Almeida. Professor de Música
Vocal e Instrumental, o Sr. J. J. Lodi e Repetidor, o Sr. Carlos
Henrique Soares, cego de nascença.
O edifício é o da antiga residência do primeiro Barão do Rio Bonito, no
morro da Saúde, vasto, espaçoso e arejado, com boa chacara, para recreio
dos meninos, e está adornado com gosto e simplicidade".
Merece destaque, neste registro, o discurso do Dr. Sigaud, em que a
lembrança do papel de José Alvares de Azevedo como precursor do
instituto ocupa grande parte do escrito, ficando o restante do valor e a
necessidade da educação dos cegos e o conseqüente agradecimento ao
Imperador, inclusive com a transcrição das palavras abaixo, que bem
delineavam as finalidades da instituição: "O Instituto tem por fim
educar meninos cegos e prepará-los segundo sua capacidade individual,
para exercício de uma arte, de um ofício, de uma profissão liberal. É
pois uma casa de educação e não um asilo, e muito menos um hospício; uma
tríplice especialidade, música, trabalhos, ciência, eis o que constitui
sua organização especial". (Jornal do Comércio, número 2.419, de 20 de
setembro de 1854)
Apresentando características próprias da época, o Instituto de então
aberto com 30 vagas, com somente dez delas inteiramente gratuitas,
cabendo aos demais a obrigatoriedade do pagamento de pensão.
Fachada do IBC
OS NOMES DO INSTITUTO
Em 21 de novembro de 1889, o Decreto n° 09, baixado pelo Governo
Provisório da recém-proclamada República, suprimia do nome do Instituto
a palavra "Imperial". O Decreto n° 193, de 30 de janeiro de 1890,
denominava-o Instituto Nacional dos Cegos. Finalmente, o Art. 2º do
Decreto n° 1.320, de 24 de janeiro de 1891, deu-lhe o nome de Instituto
Benjamin Constant, pelo qual ainda hoje é conhecido, numa justa
homenagem a seu mais longo e profícuo administrador.
Busto de Benjamin Constant
(exposto no hall do Instituto)
A IMPRENSA BRAILLE
Impossível pensar a História do Instituto Benjamin Constant sem o
suporte, regular e contínuo, das transcrições para o Sistema Braille, já
que isto tornaria inexeqüível o processo de leitura direta por parte do
estudante cego, privando-o, no mínimo, do conhecimento da ortografia e
das pontuações, com sérios prejuízos para a compreensão de conceitos
diferentes representados por símbolos foneticamente semelhantes, ou,
ainda para o atendimento dos diversos matizes de linguagem escrita,
contidos nas pausas, na entoação ou na ordem das idéias. Afinal foi
lendo e escrevendo que José Alvares de Azevedo, persuadiu D. Pedro II da
necessidade e da vantagem de se criar uma instituição voltada ao ensino
de pessoas deficientes da visão. E sete anos após a inauguração desta,
nela se iniciam os primeiros trabalhos nas oficinas de tipografia e
encadernação, origem incontestável da atual Imprensa Braille, assim
chamada já a partir dos primeiros anos da década de 40.
Nas oficinas, os livros eram impressos só para os alunos, que tinham de
usá-los por muitos anos, já que para cada obra era exigida uma
composição tipográfica, e os trabalhos de encadernação e tipografia,
executados pelos alunos das séries mais adiantadas com a orientação de
um mestre, eram todos manuais. Os trabalhos com tipos móveis continuaram
até 1937, apesar da aquisição, em 1934, de duas máquinas de esteriotipia
Braille e uma impressora. Suspensas as atividades do Instituto no
terceiro trimestre daquele ano, para a conclusão da segunda etapa do
projeto de construção idealizado por Benjamin Constant, as oficinas, que
funcionavam nos corredores de seu andar térreo, também fecharam,
reabrindo em 22 de junho de 1939. Entrementes, tinha chegado da França
no ano anterior mais duas máquinas de impressão com tipos móveis.
Reabertas, as oficinas tipográficas e de encadernação passaram a
funcionar sob a denominação de Seção Braille, subordinada à Seção de
Educação, dirigida, então, pelo professor José Espínola Veiga, que
propôs ao diretor João Alfredo Lopes Braga, não só a desvinculação entre
as duas Seções, mas, também, a construção de uma novo prédio para a
Imprensa Braille, concluído somente nos meados de 1945, dando-se a
mudança no dia 26 de junho. No entanto, por não haver ainda água e luz
no prédio, as atividades só puderam ser reiniciadas no segundo dia de
janeiro do ano seguinte.
Após a reabertura da Imprensa Braille, os livros ali impressos começaram
a ser vendidos a preços módicos, mas as precárias condições econômicas
das pessoas cegas da época, assim como as de seus familiares, não lhes
permitiam comprá-los. Por isso, o diretor de então, professor Joaquim
Bittencourt Fernandes de Sá levou o problema ao Ministro da Educação e
Saúde, professor Clementi Mariani, que, em 17 de setembro de 1949,
baixou a portaria Ministerial n° 504, estabelecendo gratuidade para
todas as obras a serem distribuídas pelo Instituto. Oportuno lembrar
que, já em abril de 1942, a Revista Brasileira para Cegos - RBC, criada
por sugestão do professor José Espínola Veiga, tinha distribuição
gratuita para todo o país. A propósito, em setembro de 1959, a Imprensa
Braille transcrevia o número "1" da revista infanto-juvenil "Pontinhos",
fundada pelo professor Renato Monard da Gama Malcher, que já coordenava
a elaboração da RBC.
Hoje, além das obras didáticas e das revistas que imprime e distribui
para as pessoas cegas e instituições congêneres do Brasil, a Imprensa
Braille, dentro do possível, presta serviços de transcrição junto às
escolas onde há pessoas cegas matriculadas, sobretudo para a realização
de testes e provas.
Fachada do IBC
O INSTITUTO NO SÉCULO XX
Até 1926, ano da fundação, em Belo Horizonte, do Instituto São
Rafael, o Instituto Benjamin Constant foi a única instituição
especializada para cegos no Brasil. Dele partiram as melhores e mais
profícuas experiências no terreno da educação especial, favorecendo o
surgimento de escolas congêneres, ainda hoje em número insuficiente.
Fechado, em 1937, para conclusão da segunda etapa de construção de seu
prédio, só em 1944 reabriu para aulas, quando se tornou possível ao
educandário ampliar grandemente suas atividades educativas, mercê da
reforma de seu Regimento Interno, pelo Decreto n° 19.256, de 09 de
setembro de 1945, que, entre outras medidas importantes, criou seu curso
ginasial, equiparado, posteriormente, ao do Colégio Pedro II, pela
Portaria Ministerial n° 385, de 08 de junho de 1946. Este fato foi
altamente significativo para os discentes da época, pois lhes propiciava
a oportunidade de ingresso nas escolas secundárias e nas universidades,
de que foram exemplos, na década de 50, os três primeiros alunos do
Instituto a experimentar essa nova situação: Edison Ribeiro Lemos,
Marcello Moura Estevão e Ernani Vidon, mais tarde professores no próprio
estabelecimento.
Preocupado com a magnitude do problema da educação das pessoas
deficientes da visão, o Instituto Benjamin Constant não se restringiu à
intelectualização dos alunos, mas, consciente de que as dimensões
continentais do Brasil impedem a maioria de nele estudar, tem-se
voltado, nas últimas décadas, para pesquisa, difusão do conhecimento,
reabilitação, preparação e encaminhamento profissional, produção e
distribuição de material especializado e para a especialização de
professores e técnicos, os quais, provenientes dos mais diferentes
quadrantes de nossa terra, para lá retornam irradiando conhecimentos,
difundindo técnicas e transmitindo experiências adquiridas em cursos e
estágios ali realizados.
Vista aérea do IBC
OS PRIMEIROS DIRETORES
A gestão do Dr. José Francisco Xavier Sigaud, embora muito profícua,
foi bastante curta, já que veio a morrer em 10 de novembro de 1856.
Ainda assim, no âmbito interno, estruturou os cursos, dando relevo à
alfabetização e ao ensino de algumas profissões, então consideradas
compatíveis com a cegueira. Externamente, coube-lhe a árdua tarefa de
lutar contra as barreiras erguidas por aqueles que, movidos por seus
preconceitos, viam na educação de pessoas cegas uma grande utopia.
Promoveu, para tanto, campanhas publicitárias sempre acompanhadas de
demonstrações públicas do aproveitamento de seus alunos.
Assume a direção do Instituto, alguns dias depois, o Conselheiro Cláudio
Luiz da Costa. Dando prosseguimento aos trabalhos já iniciados e
buscando melhorar o funcionamento da instituição, iniciou a contratação
de profissionais que ensinassem aos cegos os ofícios de empalhador de
cadeiras, tamanqueiro, torneiro e encadernador, além de uma mestra em
costura, para substituir a esposa do Dr. Sigaud, que muito se dedicara
ao Instituto e entendia que nem todos os alunos se realizariam nas
atividades intelectuais, quer pelas limitações individuais de alguns,
quer pela dificuldade de obtenção de trabalho, aumentada pelos
preconceitos sociais, então bem maiores.
O ensino passou a obedecer a programas minuciosamente planejados e bem
rigorosos. Os alunos do 5º. ano já deviam saber toda a gramática
portuguesa, sendo capazes de fazer versões para o francês e conjugar
qualquer verbo nas duas línguas. Além disso, deviam aprender Geografia,
Física, Geometria, Álgebra e noções genéricas de Ciências Naturais,
estando as alunas excluídas destas matérias.
Era crescente o prestígio da instituição, e aumentava o número dos
alunos profissionalizados como encadernadores, organistas, afinadores de
piano e professores (de Português, Francês, Música ou História Sagrada),
alguns dos quais acabaram por empregar-se no próprio Instituto como
auxiliares de ensino ou repetidores, enquanto outros iam para colégios
particulares ou se dedicavam a atividades autônomas.
O fato mais importante de sua gestão, porém, foi a montagem de uma
tipografia para impressão em pontos salientes, tarefa atribuída ao
dedicado artesão Sr. Nicolau Henrique Soares, em 1861. Era lançado o
alicerce da atual Imprensa Braille e, já em 1863, publicava-se o
primeiro livro em alto-relevo no Brasil, a "História Cronológica do
Imperial Instituto dos Meninos Cegos", escrito pelo próprio Cláudio Luiz
da Costa, abrangendo, em três volumes, os fatos das duas primeiras
administrações.
Finalmente, a guisa de informação estatística, ressalta-se que, até
1862, 40 alunos já haviam sido matriculados como internos no Instituto,
com as seguintes causas de cegueira: oftalmia purulenta: 15; varíola ou
causas acidentais: 10; paralisia dos nervos óticos ou amaurose: 9;
defeito congênito de organização dos olhos: 6.
O falecimento de Cláudio Luiz da Costa, em junho de 1869, ensejou ao Dr.
Benjamin Constant Botelho de Magalhães, que, desde 1861, já vinha
lecionando matemática e ciências naturais no educandário, tornar-se o
seu terceiro diretor, cargo brilhantemente exercido até novembro de
1889, quando assumiu a pasta do Ministério da Guerra no Brasil
República.
Benjamin Constant recebeu o Instituto consolidado e organizado, porém
mal instalado no prédio de número 127, da Praça da Aclamação (ou Largo
do Santana) , para onde se mudara na década de 1860. Àquela altura, a
demanda por vagas crescia cada vez mais, inclusive das províncias mais
distantes, o que levou a idealizar a construção de um edifício de
grandes proporções, que não se cingisse às necessidades da época apenas,
mas pudesse atender a uma procura que, tudo indicava, seria sempre
ascendente. Baseava sua quase certeza na estimativa feita, por volta de
1870, em 12.000 deficientes visuais no país.
D. Pedro II, sempre atento à problemática da educação das pessoas cegas
, não só aprovou a idéia de Benjamin Constant, como também a amparou de
forma concreta, doando ao Imperial Instituto dos Meninos Cegos um
terreno de sua propriedade particular, com área de 9.515 metros
quadrados, situado na Praia Vermelha (hoje Urca), na Av. Pasteur,
350/368.
Lançou-se, então, Benjamin Constant ao preparo do projeto de construção
do que viria a ser o atual prédio do Instituto, confiando a medição e o
arruamento ao hábil engenheiro Dr. Carlos Araújo Ledo Neves, e ao
construtor, Sr. Torquato Martins Ribeiro, os serviços necessários ao
lançamento da pedra fundamental, que teve solenidade verificada a 29 de
junho de 1872, e cujo transcrevemos, conservando a ortografia original:
"No anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e
setenta e dois, quinquagesimo da Independencia do Imperio do Brazil aos
vinte e nove dias do mez de Junho, achando-se presentes no terreno
situado à Praia-Vermelha, à uma hora da tarde, o muito alto e Poderoso
Principe o Senhor Dom Pedro Segundo, Imperador Constitucional e Defensor
Perpetuo do Brazil (Sua Augusta Consorte a Senhora Princesa Dona Izabel,
Sua Alteza o Senhor Conde d'Eu, o Ministro do Imperio, o Senhor
Conselheiro Doutor João Alfredo Corrêa de Oliveira, o Comissario do
Governo d'este Instituto, Conselheiro Doutor Antônio Felix Martins, o
diretor do mesmo, Bacharel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o
Diretor do Instituto dos Surdos-Mudos, Doutor Ludgero Gonçalves da
Silva, o General Visconde de Santa Thereza, e mais pessôas de distincção
abaixo assinadas com o auxilio da Divina Providencia, Sua Majestade o
Imperador lançou a pedra fundamental do edificio destinado ao Imperial
Instituto dos Meninos Cegos, para o que, pelo mesmo Augusto Senhor, foi
o supra-dito terreno doado por acto de quatorze de maio do corrente anno,
tendo sido a referida pedra benta, segundo o Ritual Romano, pelo
Reverendissimo Monsenhor Capellão do mesmo Instituto, Bernardo Lyra da
Silva, cobrindo esta a uma caixinha de madeira encerrada em outra de
chumbo, contendo uma cópia authentica deste Auto, um exemplar da
Constituição Politica do Imperio, os jornaes do dia e as moedas
metalicas do Imperio. Para constar lavrei êste Auto em duplicata, para
ser um dos exemplares recolhido ao Archivo Publico do Imperio - Eu,
Benedito Antônio Bueno, servindo de Secretário do Imperial Instituto dos
Meninos Cegos, o escrevi, e assigno."
Só em 1890, um ano antes da morte de Benjamin Constant, que, aliás, já
não era diretor do Instituto, concluída a primeira etapa da construção,
pôde ser efetuada a mudança para o novo prédio. A construção da segunda
etapa só foi efetivada em 1944.
Pode-se afirmar ter sido Benjamin Constant aquele que definitivamente
consolidou o Instituto como escola, devendo-se-lhe o prestígio de âmbito
nacional que viria a alcançar como primeiro educandário para cegos na
América Latina. Tão grande era seu interesse pela integração social das
pessoas cegas, que, mesmo já no exercício da Pasta do Ministério da
Guerra e, logo após, como Ministro dos Correios e Instrução Pública, no
ardor do incipiente regime republicano, não se descuidou dos problemas
relativos à educação e enviou à Europa uma Comissão para estudar e
adquirir o que de mais moderno houvesse para o completo aparelhamento
pedagógico da Instituição.
Deu ao Instituto seu terceiro Regimento Interno, já que o segundo fora
expedido pelo Ministro do Império Luiz Pedreira do Couto Ferraz, em 18
de dezembro de 1854, ainda, portanto, na administração de Xavier Sigaud.
Com essa reforma , Benjamin Constant buscava trazer aos alunos novas
perspectivas, pois sua meta era o bem-estar deles, no seu mais amplo
sentido. Tal respeito tinha por eles e neles tanto acreditava, que tinha
por hábito levar, alternadamente, um grupo de alunos às reuniões
republicanas que eram realizadas nas dependências do Instituto,
inclusive àquelas de caráter decisório.
Melhorou e ampliou os cursos já existentes, criou outros e desmembrou
algumas cadeiras, admitindo, em conseqüência, novos funcionários ao
magistério.
OS NOMES DO INSTITUTO
Em 21 de novembro de 1889, o Decreto n° 09, baixado pelo Governo
Provisório da recém-proclamada República, suprimia do nome do Instituto
a palavra "Imperial". O Decreto n° 193, de 30 de janeiro de 1890,
denominava-o Instituto Nacional dos Cegos. Finalmente, o Art. 2º do
Decreto n° 1.320, de 24 de janeiro de 1891, deu-lhe o nome de Instituto
Benjamin Constant, pelo qual ainda hoje é conhecido, numa justa
homenagem a seu mais longo e profícuo administrador.
A IMPRENSA BRAILLE
Impossível pensar a História do Instituto Benjamin Constant sem o
suporte, regular e contínuo, das transcrições para o Sistema Braille, já
que isto tornaria inexeqüível o processo de leitura direta por parte do
estudante cego, privando-o, no mínimo, do conhecimento da ortografia e
das pontuações, com sérios prejuízos para a compreensão de conceitos
diferentes representados por símbolos foneticamente semelhantes, ou,
ainda para o atendimento dos diversos matizes de linguagem escrita,
contidos nas pausas, na entoação ou na ordem das idéias. Afinal foi
lendo e escrevendo que José Alvares de Azevedo, persuadiu D. Pedro II da
necessidade e da vantagem de se criar uma instituição voltada ao ensino
de pessoas deficientes da visão. E sete anos após a inauguração desta,
nela se iniciam os primeiros trabalhos nas oficinas de tipografia e
encadernação, origem incontestável da atual Imprensa Braille, assim
chamada já a partir dos primeiros anos da década de 40.
Nas oficinas, os livros eram impressos só para os alunos, que tinham de
usá-los por muitos anos, já que para cada obra era exigida uma
composição tipográfica, e os trabalhos de encadernação e tipografia,
executados pelos alunos das séries mais adiantadas com a orientação de
um mestre, eram todos manuais. Os trabalhos com tipos móveis continuaram
até 1937, apesar da aquisição, em 1934, de duas máquinas de esteriotipia
Braille e uma impressora. Suspensas as atividades do Instituto no
terceiro trimestre daquele ano, para a conclusão da segunda etapa do
projeto de construção idealizado por Benjamin Constant, as oficinas, que
funcionavam nos corredores de seu andar térreo, também fecharam,
reabrindo em 22 de junho de 1939. Entrementes, tinha chegado da França
no ano anterior mais duas máquinas de impressão com tipos móveis.
Reabertas, as oficinas tipográficas e de encadernação passaram a
funcionar sob a denominação de Seção Braille, subordinada à Seção de
Educação, dirigida, então, pelo professor José Espínola Veiga, que
propôs ao diretor João Alfredo Lopes Braga, não só a desvinculação entre
as duas Seções, mas, também, a construção de uma novo prédio para a
Imprensa Braille, concluído somente nos meados de 1945, dando-se a
mudança no dia 26 de junho. No entanto, por não haver ainda água e luz
no prédio, as atividades só puderam ser reiniciadas no segundo dia de
janeiro do ano seguinte.
Após a reabertura da Imprensa Braille, os livros ali impressos começaram
a ser vendidos a preços módicos, mas as precárias condições econômicas
das pessoas cegas da época, assim como as de seus familiares, não lhes
permitiam comprá-los. Por isso, o diretor de então, professor Joaquim
Bittencourt Fernandes de Sá levou o problema ao Ministro da Educação e
Saúde, professor Clementi Mariani, que, em 17 de setembro de 1949,
baixou a portaria Ministerial n° 504, estabelecendo gratuidade para
todas as obras a serem distribuídas pelo Instituto. Oportuno lembrar
que, já em abril de 1942, a Revista Brasileira para Cegos - RBC, criada
por sugestão do professor José Espínola Veiga, tinha distribuição
gratuita para todo o país. A propósito, em setembro de 1959, a Imprensa
Braille transcrevia o número "1" da revista infanto-juvenil "Pontinhos",
fundada pelo professor Renato Monard da Gama Malcher, que já coordenava
a elaboração da RBC.
Hoje, além das obras didáticas e das revistas que imprime e distribui
para as pessoas cegas e instituições congêneres do Brasil, a Imprensa
Braille, dentro do possível, presta serviços de transcrição junto às
escolas onde há pessoas cegas matriculadas, sobretudo para a realização
de testes e provas.
O INSTITUTO NO SÉCULO XX
Até 1926, ano da fundação, em Belo Horizonte, do Instituto São
Rafael, o Instituto Benjamin Constant foi a única instituição
especializada para cegos no Brasil. Dele partiram as melhores e mais
profícuas experiências no terreno da educação especial, favorecendo o
surgimento de escolas congêneres, ainda hoje em número insuficiente.
Fechado, em 1937, para conclusão da segunda etapa de construção de seu
prédio, só em 1944 reabriu para aulas, quando se tornou possível ao
educandário ampliar grandemente suas atividades educativas, mercê da
reforma de seu Regimento Interno, pelo Decreto n° 19.256, de 09 de
setembro de 1945, que, entre outras medidas importantes, criou seu curso
ginasial, equiparado, posteriormente, ao do Colégio Pedro II, pela
Portaria Ministerial n° 385, de 08 de junho de 1946. Este fato foi
altamente significativo para os discentes da época, pois lhes propiciava
a oportunidade de ingresso nas escolas secundárias e nas universidades,
de que foram exemplos, na década de 50, os três primeiros alunos do
Instituto a experimentar essa nova situação: Edison Ribeiro Lemos,
Marcello Moura Estevão e Ernani Vidon, mais tarde professores no próprio
estabelecimento.
Preocupado com a magnitude do problema da educação das pessoas
deficientes da visão, o Instituto Benjamin Constant não se restringiu à
intelectualização dos alunos, mas, consciente de que as dimensões
continentais do Brasil impedem a maioria de nele estudar, tem-se
voltado, nas últimas décadas, para pesquisa, difusão do conhecimento,
reabilitação, preparação e encaminhamento profissional, produção e
distribuição de material especializado e para a especialização de
professores e técnicos, os quais, provenientes dos mais diferentes
quadrantes de nossa terra, para lá retornam irradiando conhecimentos,
difundindo técnicas e transmitindo experiências adquiridas em cursos e
estágios ali realizados.
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