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José Álvares de Azevedo
Patrono da Educação dos cegos no Brasil.
1834 – 1854
Na “Galeria dos Cegos Brasileiros”, um
vulto tem projeção especial: José Álvares de Azevedo, pioneiro,
missionário e idealista da Educação dos Cegos no Brasil.
Ele foi o primeiro a exercer, particularmente, na cidade do Rio de
Janeiro, a função de professor cego, após ter tido a oportunidade de se
educar em uma escola para cegos, na França.
Essa circunstância histórica de ser o primeiro professor cego brasileiro
justifica o título honorífico que se dá a José Álvares de Azevedo, de
“Patrono da Educação dos Cegos no Brasil”.
O atendimento educacional às pessoas sem visão, em nossa Terra, teve
início a partir da ação pioneira desse jovem, introdutor do Sistema
Braille e idealizador da primeira escola destinada a alunos cegos, no
Brasil e na América Latina, tendo por modelo a instituição onde havia
estudado, na França.
A oportunidade que teve de educação, o habilitou a desempenhar papel
relevante, como pessoa reabilitada e integrada na sociedade, estando o
seu nome, diretamente vinculado à origem da educação dos cegos em nosso
País.
Os fatos mais expressivos de que se tem notícia sobre José Álvares de
Azevedo, durante quase vinte anos de sua existência, vividos na condição
de pessoa cega, desde o berço, podem ser sintetizados em três fases
distintas: a primeira, na infância, do nasci-mento aos dez anos de
idade, vivendo como criança cega, no ambiente e no convívio familiar; a
segunda, durante os seis anos seguintes, dos dez aos dezesseis anos,
afastado da família e longe da Pátria, estudando como aluno interno, em
uma escola especializada e de ensino segregado; a terceira, os restantes
quatro anos incompletos da última fase de sua vida, após a conclusão dos
estudos, vivendo como jovem cego reabilitado pela educação e preparado a
participar da vida social.
José Álvares de Azevedo, filho de Manuel Álvares de Azevedo, nasceu no
dia 8 de abril de 1834, de uma família abastada, na cidade do Rio de
Janeiro, então capital do Império.
Tendo nascido cego, todos os recursos médicos disponíveis, à época,
foram tentados, sem qualquer êxito, sendo a cegueira inevitável durante
toda a sua existência...
Como criança cega, teve a mais desvelada dedicação por parte dos seus
pais, sendo cercado de todo afeto e carinho, não só pelos familiares,
como também pelos amigos da casa e da comunidade em geral.
Desde cedo, despertou em todos a mais profunda admiração por sua grande
vivacidade e inteligência precoce, nele reconhecidas.
Era grande e permanente a sua curiosidade em tudo conhecer, investigar e
saber sobre todas as coisas que suas mãos pudessem alcançar.
Esse menino, tão bem dotado, estaria certamente condenado a crescer e a
viver, irremediavelmente, vítima do analfabetismo, o que era condição
natural de uma pessoa cega naquela época, no Brasil.
Mas isso não iria acontecer ao menino Azevedo, pois pelos desígnios
imperscrutáveis do Criador, surge no caminho daquela criança a
providencial interferência de um amigo da família, Dr. Maximiliano
Antônio de Lemos, que tinha conhecimento de que existia, na França, uma
escola para atender a alunos cegos e onde o menino poderia estudar.
Seus pais, no entanto, não admitiam a idéia de ter de se afastar do
filho cego para ir estudar tão longe, na Europa.
Após cinco anos, de relutância e negativa constante, acabaram aceitando
a idéia do afastamento, ante a insistência e o empenho do Dr. Lemos, que
já tinha providenciado a matrícula do menino na escola.
Assim, no início de agosto do ano de 1844, quando Álvares de Azevedo
contava dez anos de idade, ele embarcou para a França a fim de estudar
no “Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris”. Onde permaneceu como
aluno interno, durante seis anos ininterruptos, dedicando-se
inteiramente aos estudos, com aproveitamento máximo e desenvolvimento
pleno de todo o seu potencial e capacidade de que era dotado.
Todo o período de sua escolaridade se deu quando o invento de Louis
Braille estava sendo experimentado, como meio de escrita e leitura,
paralelamente, ao sistema de leitura tradicional da escola, ou seja, o
sistema dos caracteres comuns, em relevo, de autoria de Valentin Haüy,
fundador da instituição “Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris”,
primeira escola criada, em 1784, para o ensino de alunos cegos, no
mundo.
Como estudante, Álvares de Azevedo deixou “a melhor das famas”, segundo
afirmação de J. Pinheiro de Carvalho, também, ex-aluno da escola de
Paris e, mais tarde, professor do Instituto Benjamin Constant.
Concluído o curso, com grande aproveitamento, o jovem Azevedo adquiriu
“educação acurada e variada instrução” que lhe assegurou vasta e segura
cultura, em sua formação intelectual.
Regressou à Pátria e ao seio da família, em 14 de dezembro de 1850, com
o propósito de difundir o Sistema Braille e com o ideal de poder criar
uma escola para cegos, semelhante ao Instituto Real dos Jovens Cegos de
Paris.
Para tanto, passou a fazer palestras nas casas de família, nos salões da
Corte Imperial e na comunidade, em geral, demonstrando como era possível
escrever e ler através do Sistema Braille.
Escreveu e publicou, na impren-sa, artigos sobre as possibilidades e
condições de pessoas cegas poderem estudar, sendo ele próprio um exemplo
dessa realidade.
Foi o pioneiro da introdução do Sistema Braille e no exercício da função
de professor, como pessoa cega, no Brasil, ensinando a ler e a escrever
a outras pessoas, tirando-as do analfabetismo e nessa função teve a
oportunidade de ensinar a uma moça cega, Adélia Sigaud, filha do Dr.
Francisco Xavier Sigaud, Médico da Corte Imperial.
Foi por meio do Dr. Xavier Sigaud e do Barão do Rio Bonito, que o jovem
cego Álvares de Azevedo conseguiu ter uma entrevista com o Imperador do
Brasil, D. Pedro II para quem fez uma demonstração de como uma pessoa
cega podia escrever e ler correntemente, pelo Sistema Braille.
O Imperador D. Pedro II, viva-mente interessado e sensibilizado com tal
demonstração, proferiu a célebre frase histórica: “a cegueira já quase
não é uma desgraça”.
Nessa mesma ocasião, foi apresentada, por José Álvares de Azevedo, a
idéia e a proposta de se criar uma escola para cegos, semelhante à
escola de Paris, o que era sua grande aspiração.
Com a devida autorização do Imperador, foi iniciado o processo para a
criação dessa escola e José Álvares de Azevedo participou, intensamente,
de todas as providências iniciais e decisivas que resultaram na fundação
do “Imperial Instituto dos Meninos Cegos”, cujo ato de inauguração
ocorreu no dia 17 de setembro de 1854.
A este ato não esteve presente o seu idealizador, conforme afirmação de
Xavier Sigaud ao dizer: “ato que era o incessante objeto de seus
pensamentos ou alvo de suas esperanças. Deus não permitiu que ele
gozasse de seu triunfo” pois, seis meses antes, o jovem cego morrera, no
dia 17 de março de 1854, vítima de tuberculose, aos vinte anos de idade.
Seu grande ideal tornou-se uma realidade e o nome de José Álvares de
Azevedo, como personalidade intelectual de destaque e pelo seu papel
meritório de pioneiro, missionário e idealista, deve ser sempre exaltado
e reconhecido por todos os que lidam com a educação dos cegos
brasileiros, pois dele partiu a idéia da criação da primeira escola para
o ensino de cegos, em nossa Pátria.
“Azevedo foi um moço excepcional, que embora pouco se demorasse na
terra, deixou de sua passagem um sulco luminoso cujo brilho eterno é um
fanal que nos guia a todos”, no dizer de Aires da Matta Machado,
ex-aluno do Instituto Benjamin Constant, eminente intelectual, filólogo
e consagrado escritor das letras brasileiras.
Os últimos anos da vida de José Álvares de Azevedo foram dedicados,
também, aos estudos para aprofundamento de sua cultura. Com a idade de
18 anos, “entregou-se com fervor, ao cultivo das letras, às belezas dos
poetas e historiadores portugueses”.
Em poucos anos, aumentou seus conhecimentos e dedicou-se a pesquisas,
encaminhando seu espírito às indagações da História Pátria. Valendo-se
de ledores, consultou manuscritos da Biblioteca Nacional para o domínio
do conhecimento de fatos da Historia do Brasil.
Desses seus estudos e pesquisas, deixou alguns trabalhos escritos,
conforme referência do Dr. Xavier Sigaud, em seu discurso, quando da
inauguração do “Imperial Instituto dos Meninos Cegos”, hoje, Instituto
Benjamin Constant. Por tudo que realizou, em tão pouco tempo de
existência, esse jovem e ilustre brasileiro cego, José Álvares de
Azevedo é, de fato, o lídimo “Patrono da Educação dos Cegos no Brasil”
e, por isso, merecedor do nosso eterno e comovido tributo de gratidão.
Edison Ribeiro Lemos é Mestre em Educação - Administração Escolar,
formado em História e Geografia e Livre Docência pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e em Pedagogia pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Atuou como Docente do Instituto Benjamin Constant por 27
anos, e por 10 anos como Técnico de Assuntos Educacionais.
Publicado na seção Palavra Final da revista Benjamin Constant nº 24 –
abril 2003
Edison Ribeiro Lemos
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